quarta-feira, 12 de maio de 2010

Diário Insone

São os faróis rápidos e anexos aos roncos de um motor apressado que me dão lampejos de vida no escuro da madrugada. Para alguns é tedioso mas para mim é quase excitante, tantos ruídos que rompem a madrugada silenciosa. Ouço tudo ao meu redor com mais claresa, o ventilador e os ventilados do quarto ao lado, as páginas sendo viradas no leito da velha com insônia da casa à direita, até mesmo a canção de ninar sonolenta que a pobre mulher canta para o seu beber que está aos berros na casa atrás. Sinto o cheiro do chá que está vindo da cozinha, a porta está aberta e ninguém bebeu o chá. Tem uma borboleta no meu quarto, ela teima em me fazer compania mesmo eu a tendo como uma das maiores causas da minha incapacidade de dormir. EU ODEIO INSETOS. Não quero levantar-me para acender a luz - o que faria vários barulhos estrondosos até que eu chegasse ao interruptor - ao invés disso optei pela luz do meu celular surrado. (Ah, como eu odeio insetos, eles fazem mais barulho do que qualquer outra coisa na noite). O lápis que desliso por sobre o papel faz um ruído tão caloroso e familiar. Gosto de escrever a punho, é emplogante embora minha letra neste momento esteja tão tortuosa que não sei bem se mais tarde entenderei o que escrevi. Mais um ruido, ouço com atenção, me parece que uma pessoa solitária caminha na rua. - Que tipo de pessoa anda sozinha às 2:47h da manhã numa quinta?
- Que tipo de pessoa escreve que uma pessoa caminha na rua Às 2:47h da manhã de uma quinta?
Queria poder me livrar desses barulhos insistentes em meus ouvidos. Mas o que iria me interter senão estes durante uma madrugada insone?
O meu alerta de mensagem me assusta, bela demonstração de afeto de alguém tão distante, fico feliz.
Cada movimento meu parece ser tão mais alto do que o abtual, durante o dia com toda a poluição sonora não ouço nada desses movimentos sutis e imbecis. Faz muito calor e um banho iria acordar as pessoas do quarto ao lado, isto me traria problemas.

A bateira ameaça descarregar, vou ficar no escuro. Talvez assim eu durma tomada pelo tédio. Adoraria poder "desligar" por alguns instantes os meus pensamentos sórdidos e mordases, queria apagar, entrar no topor que as pessoas ao redor estão concentradas.

Me concentro apenas nos ruídos do meu silêncio, conto os batimentos e me envolvo nos mais infieis e saborosos sonhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário